quarta-feira, 22 de maio de 2013

Sugestão de Ana Paula Nery - Aluna de Pedagogia - maio/2013

Achei este texto em um BLOG e acho que vale a pena ser lido...



E livro para a alfabetização? Qual você tem?"



Tenho o costume de visitar as prateleiras de livros infantis para ver as novidades, ler os livros que não conheço e observar o contato das crianças com o universo mágico das histórias infantis. Geralmente junto com as crianças, estão as mães sugerindo que os filhos escolham o livro que desejam comprar… A maioria das crianças pequenas, não alfabetizadas, folheiam o livro, olham as capas, escolhem a partir dos personagens já conhecidos ou usam algum outro critério, como possuir canetinhas, quebra-cabeça, pop-ups, etc..
Esta semana aconteceu algo inédito (pelo menos na minha experiência!) cada livro que uma criança (com 4-5 anos aparentemente) escolhia, era desencorajado pela mãe, com frases tipo: "ah não, filha, esse é muito chato!" ou "Esse não! É para criança muito pequena" e, assim, cada um que a criança escolhia, a mãe tinha algo contra para dizer. Só depois fui entender o motivo. A mãe chamou o vendedor e disse: "qual desses ajuda na alfabetização?", o vendedor a conduziu para a seção de livros didáticos e mostrou alguns. Imediatamente a mãe reconheceu um deles e disse, entusiasmada: "Nossa! É esse mesmo! Eu fui alfabetizada por ele. Filha, está decidido! Vamos?!".
O livro escolhido (acreditem!) era a cartilha "Caminho Suave"(1) (que teve sua 1a edição em 1948, de autoria da pedagoga Branca Alves – 1911-2001), quem não se lembra? Assim como a mãe, também fui alfabetizada pela referida cartilha. Qual o problema, então? Poderia ficar horas falando sobre isso que, por sinal, é um dos temas que mais me interessa na Educação, mas, para continuar mantendo a tradição de textos leves e mais objetivos, vou tentar apontar pontos cruciais que me preocupam na escolha da mãe.
Sem entrar, ainda, em teorias de alfabetização e letramento, uma questão que me intriga é a preocupação (muitas vezes desmedida) dos pais de anteciparem o período de alfabetização escolar, "treinando" seus filhos em casa, interrompendo anos fundamentais da infância, em que outras habilidades e competências (muito mais importantes e estruturantes, inclusive para depois aprender a escrever) deveriam estar sendo promovidas… Para quê? Para que antecipar este momento? Será que passa pela cabeça da mãe que se sua filha aprender antes, vai ser mais bem sucedida na vida adulta? Será mais inteligente? Conseguirá melhores posições no mundo do trabalho (daqui a 20 anos…)?
Para começar a falar brevemente sobre as concepções teóricas que estão por trás das cartilhas tradicionais, vamos pensar que nenhuma teoria, a não ser com fins deliberadamente opressores, estigmatizadores, etc, tem um "problema" em si mesma. A questão deve ser sempre contextualizada, quero dizer, precisamos entender o contexto politico-científico, histórico-cultural em que, neste caso, esta cartilha foi criada.
Na época em que ela foi criada, no final dos anos de 1940, no Brasil e no mundo, tinham dois métodos principais de alfabetização: sintéticos e analíticos. Não interessa aprofundar aqui, mas o que deve ser considerado para nossa análise é que os dois foram criados em um momento histórico em que a escrita era entendida simplesmente como representação da fala. Explicando melhor: nos últimos, pelo menos 20 anos de estudos e importantes descobertas da linguística, psicologia, educação(2), a escrita é compreendida como sistema simbólico e a ênfase está voltada para seus usos sociais (para que(m) escrevemos?). Isso significa que o conceito de escrita atual é muito mais amplo do que a simples ideia de representação da fala. Aliás, nem parece correto dizer representação da fala, mas sim representação da língua, que são coisas diferentes. A língua entendida como prática discursiva, que não pode ser vista meramente como aplicação de regras gramaticais ou códigos isolados. Pensar assim é reduzir a imensidão de possibilidades que a nossa língua, seja na modalidade oral ou escrita, pode promover…
Entender a língua como um conjunto de práticas sociais e discursivas que são, efetivamente, usadas para que as pessoas nos ouçam, nos compreendam, nos ajudem, troquem ideias, falem de sentimentos, informações importantes, avise de algo que irá acontecer ou, que simplesmente nos encante, é muito mais do que aprender a juntar letras e palavras descontextualizadas da vida real. Ninguém conversa silabicamente! Não é?
Não basta, portanto, ensinar a ler e escrever, é preciso ensinar a usar a leitura e a escrita na vida real! Isso tudo, acontecendo ao mesmo tempo… Num processo só! Processo que, tecnicamente, tem o nome de alfabetizar letrando ou alfabetizar na perspectiva do letramento.
Mas esse é assunto da escola! É a escola, enquanto instituição social, que deve ter uma clara preocupação em ensinar, sistematicamente, como produzir, da melhor maneira possível, gêneros textuais que são realmente praticados e, mais do isso, que são necessários no nosso dia a dia, como escrever e-mails, bilhetes, textos narrativos, etc..
E os pais? Ah… Os pais têm uma função muito mais divertida, mas igualmente importante e complementar. Se pensarmos que a "leitura" e a oralidade acontecem muito antes da escrita e que, para aprender a escrever corretamente, a escola parte do que as crianças já possuem de repertórios orais e de conhecimento de mundo, fica fácil deduzir o que você, pai ou mãe, pode fazer para ajudar seu filho e a escola, não? Contar histórias, brincar, cantar, conversar, ouvir, ler… Ah! Não só para os filhos, ler para você também! Se ainda não tem, repense seus hábitos de leitura, eles certamente irão se espelhar em você. É só entender que atividades letradas (no conceito de letramento que estamos falando) são, desde um simples folhear de livro, escutar uma história ou um conto infantil, até ensinar seu filho para esperar a vez de falar numa conversa cotidiana ou a responder corretamente uma pergunta que você fez.
Bem, bem resumidamente: respeite a infância do seu filho! Escolha uma escola que você entenda e confie nos professores e na proposta de ensino-aprendizagem. Não antecipe etapas que vão acontecer "naturalmente". Não há só um aspecto do desenvolvimento que deva ser olhado ou investido por vocês, mãe e pai, mas sim vários outros que, a depender da fase, são, inclusive, mais importantes, como o aspecto afetivo-emocional nas crianças pequenas, por exemplo. Aprender a escrever "corretamente" é muito mais do que saber letras e sons e, ademais, não é só assim que nos comunicamos (também pelos gestos e pela fala oral, por exemplo).
A mãe que estava na livraria comprando a cartilha pode nunca ler esse texto. Mas, se eu pudesse, diria para ela trocar a pergunta que fez ao vendedor quando procurava um livro didático, por: "qual livro você acha que pode encantar minha filha de 5 anos?". Ou, se não ela, poderia dizer para o vendedor trocar sua pronta resposta indicativa da "seção de didáticos", por: "Você procura livros para ajudar na alfabetização? É fácil! Todos! Todos aqui podem ajudar na alfabetização… Mas… Vamos ver… Qual desses aqui sua filha se interessou?"
Sabe como você poderia saber? Com olhares atentos e ouvidos dispostos para ouvir o que ela tem para dizer, em seus gestos, em sua fala e, daqui muito pouco tempo, também pela escrita.
_________
(1) Caminho Suave até os anos 1990 ultrapassava um milhão de cópias vendidas, hoje chega a 5.000 exemplares apenas. Ainda assim, a cartilha está entre as obras mais vendidas da Edipro, editora que comprou os direitos de publicação do livro com o compromisso de não modificar sua estrutura e método. "O que poderemos é fazer algumas atualizações pedagógicas e ortográficas", conta a coordenadora da Edipro, Maíra Lot Vieira – as informações são de uma reportagem da Folha de S.Paulo de 2010.
(2) Mais de vinte anos, se considerarmos os primeiros estudos de letramento no Brasil, cujo marco, segundo diversos autores, entre eles Magda Soares, foi um texto datado de 1986, da linguista da USP Mary Aizawa Kato, em sua publicação "No mundo da escrita" de 1986. Momento em que ela "traduziu" o termo letramento com o sentido de literacy (do inglês). Em um dos trechos da obra citada, ela afirma: "Cidadão funcionalmente letrado capaz de fazer uso da linguagem escrita para sua necessidade individual de crescer cognitivamente e para atender às várias demandas de uma sociedade que prestigia esse tipo de linguagem como um dos instrumentos de comunicação" (p.7).



Dicas de sites:


http://www.projetospedagogicosdinamicos.com/


Nenhum comentário:

Postar um comentário