domingo, 2 de dezembro de 2012

Sugestão de Thais Helena - Aluna de Pedagogia - dez./2012

Professores Apaixonados
Por: GABRIEL PERISSÉ
Professores e professoras apaixonados acordam cedo e dormem tarde,
movidos pela idéia fixa que podem mover o mundo. Apaixonados, esquecem
a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes
que, de múltitplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério
igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar
contexto a todos os textos. Não há pretextso que justifiquem, para os
professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso
nem um pouco de romantismo barato. Apaixonar-se sai caro!
Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio
comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do
conhecimento, saem cantando o pneu da alegria. Se estão apaixonados, e
estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de
sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver
sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado
com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as
suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, dos
desrespietos, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na
profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu
protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui
no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no
quadro. Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações
antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com
nada, ensinar é uma forma de oração. Não essa oração chacoalhar de
palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração
subordinada, e nada mais.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo,
somar os esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem
analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados
tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma
explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele
mesmo, professor, não esperava explicar. A paixão é inexplicável, bem
sei. Mas é também indisfarçável.

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