quinta-feira, 12 de julho de 2012

Relato de experiência da aluna Letícia Fonseca Fernandes Neves

Há um mês atrás, dia 12/06, foi postado neste blog do CEPED, meu
relato de experiência do estágio supervisionado em gestão e docência
no Ensino Fundamental, pelo curso de graduação em Pedagogia da
Universidade Newton Paiva. Para relembrar, fiz o estágio numa renomada
escola na zona sul da cidade de Belo Horizonte / MG. Durante três
meses, participei de um projeto de intervenção sobre o antigo Egito,
com a turma de primeiro ano do ensino fundamental.
A postura da professora-gestora me fez refletir, questionar e escrever
um pequeno retrato da postura de docente que visa a educação para a
cidadania. Já disse no primeiro relato (12/06) da minha primeira
impressão da professora e vou repetir: uma professora com uma voz
suave, tranquila e segura de seu lugar no grupo e uma turma agitada,
animada e predominantemente masculina de 18 crianças de 7 (sete) anos.
A turma era mesmo animada, as crianças falavam alto, pulavam na sala,
ficavam na formação de roda deitadas, de pernas para o ar ou rolando e
cutucando o colega. Pensei ser "uma turma difícil", como minha avó,
professora de primário, dizia. A sala tinha muitas coisas, muitos
objetos, os materiais ficavam expostos e as mochilas empilhadas,
jogadas, com as merendeiras meio abertas com os lanches quase
escapulindo para o chão.
O primeiro dia me impressionou: a professora chegou calmamente,
parecia que nem estava enxergando a confusão da turma, e disse: "-
Natinha, você não foi me buscar na sala dos professores hoje. Fiquei
te esperado." A menina se levantou do chão, da brincadeira de luta com
os amigos, e foi dar um abraço na professora. Depois a professora me
relatou que um dia, no início do ano letivo, ela estava saindo da sala
dos professores e, esta aluna que na época, fugia da sala de aula e
não gostava de ficar neste ambiente, disse que iria levá-la para
"nossa sala". A partir desta fala da criança, a professora a nomeou
como encarregada da buscá-la todos os dias na sala dos professores e
ajudá-la a encontrar os amigos da turma 1A.
Continuando a descrição da rotina, diariamente, quando a professora
chegava na sala de aula, colocava a mão no ombro de um aluno à revelia
– que quase sempre estava no meio da confusão, todos estavam - e pedia
para que ele escrevesse a rotina no quadro negro, que ela ditava. Aos
poucos, à medida que a criança escolhida ia escrevendo a rotina ao som
da voz da professora, a confusão da turma se desfazia e todos
começavam a prestar atenção no quadro negro, sedentos das novidades
daquele dia. Uma vez por semana tinha biblioteca, ou aula de artes, ou
capoeira, ou educação física, e todos os dias tinha pesquisa escrita.
Era interessante observar que qualquer atividade era igualmente
comemorada com mesmo entusiasmo da bagunça que estava sendo feita há
minutos atrás.
Na Escola, o ensino visa à formação de pessoas capazes de pensar e
agir como seres históricos conscientes do seu papel no processo de
transformação de si mesmos e do mundo e que reconheçam para os outros
a mesma esfera de dignidade e autonomia que exigem para si. (PPP –
2012).
Clareza era a teoria na prática! Por exemplo, a cada mochila que
despencava da pilha bagunçada, a professora falava ao dono da bolsa:
"– Está vendo, suas coisas que estão na mochila vão estragar se ela
cair muitas vezes. Por quê você não tenta pendurá-la?" Todos os alunos
a partir dessa intervenção saíam de seus lugares, penduravam suas
bolsas e a sala ficava muito bem arrumada. Essa intervenção foi
repetida inúmeras vezes na minha presença.
Os dias, então, se passavam e a turma não se mostrava cansada nem
desanimada com as "aulas", pelo contrário. As pesquisas sobre os temas
do projeto núcleo de intervenção eram sempre bem recebidas pelas
crianças, que faziam com muita vivacidade. Mas não era fácil organizar
as discussões. Muitas crianças querendo expor suas opiniões de uma só
vez e, com isso, não se escutando. A professora intervia, nestas
situações, abaixando sua voz, levantando a mão e perguntando criança
por criança se poderíamos organizar a roda para que cada um falasse na
sua vez e todos escutassem. Não importava o tempo que passasse com a
mão levantada, esperando o silêncio, a persistência da professora era
grande, pois ela entendia que esta era uma atitude de educação moral,
tão importante quanto a educação intelectual.
Era sempre assim: qualquer novidade, qualquer fala interessante,
qualquer ruído fora do cotidiano, a turma corria para ver, ouvir e,
principalmente, falar... Era uma turma muito curiosa mesmo! A
professora, com atitude e intenção educativas, esperava, se mantinha
sentada na roda, e levantava a sua mão. As crianças entendiam, a meu
ver, que poderiam conversar sobre o fato novo, mas um de cada vez,
devagar. Voltavam para os seus lugares e a roda recomeçava. Mas não
era rápido, como num passe de mágicas. Demorava pra que isso
acontecesse! Segundo a professora no começo do ano letivo demorava
ainda mais, agora no meio do ano a reorganização já estava bem rápida!
Adendo:
A instituição acredita que os princípios educacionais são efetivados,
principalmente, por causa da equipe da escola, sejam eles professores
ou pessoal de apoio. Além dos conhecimentos específicos da função de
cada profissional, a equipe da escola sabe se relacionar de forma
ética, respeitosa, cordial e colaborativa com os alunos e
funcionários, deter a capacidade de escuta sem pré-julgamentos e
exercer a autoridade de forma equilibrada.


Letícia Fonseca Fernandes Neves
Aluna do 6º período da graduação em Pedagogia - EAD.

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